A voz do povo se materializa em uma Assembleia Constituinte, forjando as leis que definem o futuro de uma nação
A Constituição Federal, também conhecida como Carta Magna, é o instrumento legal máximo de um país, estabelecendo os limites materiais e formais a todas as suas leis.
A elaboração de uma Constituição pode ser originada de forma autoritária ou derivar da vontade popular, por meio de representantes eleitos para uma Assembleia Nacional Constituinte.
A Assembleia Constituinte representa um momento crucial na história de uma nação, quando o povo, através de seus representantes, estabelece as bases jurídicas e políticas que nortearão o futuro.
A atual Constituição brasileira, conhecida como “Constituição Cidadã”, é um exemplo disso, tendo sido elaborada pela Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988.
O que é uma Assembleia Constituinte
A Assembleia Constituinte é um órgão fundamental na criação de uma nova ordem constitucional. Ela representa a materialização da vontade popular na formação das leis de um Estado.
Definição e características fundamentais
Segundo Norberto Bobbio, a Assembleia Constituinte é definida como “um órgão colegial, representativo, extraordinário e temporário, que é investido da função de elaborar a Constituição do Estado”. Isso significa que a Assembleia Constituinte possui características específicas que a distinguem de outros órgãos estatais.
Suas características fundamentais incluem a capacidade de elaborar as regras fundamentais do ordenamento jurídico de um Estado, representando a manifestação da soberania popular na criação de uma nova ordem constitucional.
Poder Constituinte Originário
O Poder Constituinte Originário é representado pela Assembleia Constituinte e é responsável por romper completamente com a ordem jurídica precedente, dando início a um novo Estado.
É importante notar que, embora a Assembleia Constituinte seja um órgão temporário, o Poder Constituinte Originário é permanente, sobrevivendo à Constituição e perpassando toda a ordem jurídica como forma e expressão da liberdade humana.
A Assembleia Constituinte, portanto, desempenha um papel crucial na definição do futuro de uma nação, estabelecendo os princípios fundamentais que regerão o Estado.
A importância histórica das Assembleias Constituintes
A história das Assembleias Constituintes é profundamente enraizada na luta contra o poder absoluto e na busca por regimes mais democráticos. A noção de Poder Constituinte, concretizado na Assembleia Constituinte, está intimamente vinculada à ideia de contrato social, veiculada por filósofos como Hobbes.
Origens no contrato social e limitação do poder absoluto
A teoria do contrato social questionava o regime absolutista, defendendo a imposição de limites ao poder real. Isso contribuiu para a transição de regimes absolutistas para monarquias constitucionais, onde o poder do rei era limitado por uma constituição escrita. A Assembleia Constituinte surge como um mecanismo para dar voz ao povo e estabelecer as bases para um regime mais democrático.
Marcos históricos mundiais
Eventos históricos como a Independência das 13 Colônias Americanas e a Revolução Francesa consolidaram a importância das Assembleias Constituintes. Esses marcos históricos levaram à adoção de constituições que limitavam o poder dos governantes e garantiam os direitos dos cidadãos, estabelecendo as bases para a democracia moderna.
A legitimidade das Assembleias Constituintes ao redor do mundo está fundamentada no conceito de soberania popular, refletindo a vontade do povo e promovendo a limitação dos poderes absolutos. Isso representa um avanço significativo na história política mundial, consolidando regimes mais justos e igualitários.
Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988
Após 21 anos de ditadura militar, a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 representou um novo capítulo na história política brasileira. Instalada no Congresso Nacional, em Brasília, a 1º de fevereiro de 1987, sua convocação foi resultado do compromisso firmado durante a campanha presidencial de Tancredo Neves.
Contexto Histórico da Redemocratização Brasileira
A ditadura militar, que vigorou de 1964 a 1985, deixou uma marca profunda na sociedade brasileira. A transição para a democracia foi um processo gradual, culminando na eleição de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil após a ditadura. Embora Tancredo Neves não tenha assumido o cargo devido à sua morte, seu compromisso de convocar uma Assembleia Constituinte foi honrado por José Sarney, seu sucessor.
A Assembleia Nacional Constituinte foi um divisor de águas, simbolizando a transição de um regime autoritário para um Estado Democrático de Direito. Os trabalhos da Constituinte iniciaram-se em fevereiro de 1987 e foram concluídos em setembro de 1988.
Composição e Estrutura da Assembleia
A Assembleia Constituinte foi composta por 559 congressistas, dos quais apenas 26 eram mulheres, refletindo uma disparidade de representação. Ulysses Guimarães, do PMDB de São Paulo, atuou como presidente da Assembleia, desempenhando um papel crucial na condução dos trabalhos.
Principais Lideranças e Figuras Históricas
Além de Ulysses Guimarães, outras figuras históricas desempenharam papéis importantes na Assembleia. A presença de lideranças como José Sarney e outros parlamentares experientes contribuiu para o processo de elaboração da nova Constituição brasileira.
A Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 foi um marco na história política do Brasil, representando a transição para a democracia e a promulgação de uma nova Constituição. Seus trabalhos resultaram na Constituição brasileira de 1988, ainda em vigor.
O processo de elaboração da Constituição de 1988
O processo de elaboração da Constituição de 1988 foi caracterizado por uma ampla participação democrática, refletindo as diversas correntes de pensamento e interesses presentes na sociedade brasileira da época.
Metodologia de trabalho dos constituintes
A Assembleia Nacional Constituinte adotou uma metodologia de trabalho que envolveu a criação de comissões temáticas e subcomissões. Essas comissões foram fundamentais para a discussão e elaboração das propostas que integraram o texto final da Constituição.
Participação popular e sugestões da sociedade civil
Um aspecto inovador do processo foi a participação popular através de sugestões e emendas apresentadas pela sociedade civil. Isso permitiu que diversas vozes fossem ouvidas e incorporadas ao texto constitucional, enriquecendo o processo.
Debates e votações decisivas
Os debates e votações decisivas foram momentos cruciais durante a elaboração da Constituição. Temas polêmicos foram discutidos, e negociações políticas foram necessárias para alcançar consensos, refletindo a complexidade do processo.
A Assembleia Nacional Constituinte produziu um volume impressionante de documentos, incluindo 212 mil fichas eletrônicas e mais de 2 mil caixas de documentos originais. Esse acervo documenta a riqueza do processo de elaboração da Constituição e sua importância para a história brasileira.
A promulgação da “Constituição Cidadã”
A sessão solene do Congresso Nacional em 5 de outubro de 1988 foi um divisor de águas para a democracia brasileira. Este evento marcou o culminar de um processo que não apenas estabeleceu uma nova Constituição, mas também simbolizou a transição do Brasil de um regime ditatorial para um Estado Democrático de Direito.
A histórica sessão de 5 de outubro de 1988
No dia 5 de outubro de 1988, o Plenário da Câmara dos Deputados estava lotado para a promulgação da Constituição. Estavam presentes constituintes, parlamentares estrangeiros, embaixadores, e representantes de diversas instituições.
Logo após a execução do Hino Nacional, Ulysses Guimarães assinou os exemplares originais da Constituição com uma caneta que lhe foi presenteada em 1987. Em seguida, ele se levantou e, erguendo um exemplar, declarou: “Declaro promulgada. O documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil.”
O discurso de Ulysses Guimarães e seu significado
O discurso de Ulysses Guimarães após a promulgação foi emblemático. Ele sintetizou a essência da nova Constituição, destacando que “Hoje, 5 de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a Nação mudou.” Seu discurso ressaltou a importância da Constituição não apenas como um documento legal, mas como um instrumento para transformar a sociedade, tornando os cidadãos detentores de direitos e garantias fundamentais.
A promulgação da Constituição de 1988 foi um marco histórico que consolidou a democracia no Brasil, representando o fim de uma era de ditadura e o início de um novo período de liberdade e justiça social.
Legados e conquistas da Assembleia Constituinte
A Assembleia Constituinte foi fundamental para estabelecer princípios que direcionaram o Brasil para um Estado de bem-estar social. Com a promulgação da Constituição de 1988, o país consolidou importantes conquistas nos direitos fundamentais.
Avanços nos direitos sociais e individuais
A Constituição de 1988 trouxe significativos avanços nos direitos sociais e individuais, abordando questões como saúde, educação, moradia, trabalho, transporte, lazer, segurança, e previdência social. Esses direitos foram garantidos por meio da criação e reformulação de políticas públicas nacionais, como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Previdência Social.
Além disso, a Constituição ampliou a proteção à infância e maternidade, e estabeleceu melhores condições de trabalho, incluindo a unificação do salário mínimo, a definição de jornada de trabalho de 8 horas diárias e 44 horas semanais, e o direito ao 13º salário e aviso prévio.
Estruturação do Estado Democrático de Direito
A Constituição de 1988 também estruturou o Estado Democrático de Direito no Brasil, estabelecendo a divisão de poderes e as responsabilidades de cada ente federativo (União, estados e municípios). Isso contribuiu para a redução da desigualdade social no país e ampliou o acesso à cidadania e aos direitos fundamentais.
A nova Constituição fortaleceu a democracia brasileira, consolidando princípios que orientam as ações do Estado e garantindo que o poder seja exercido de forma a promover o bem-estar da população.
Após 21 anos de ditadura militar, a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 restaurou a democracia no Brasil, consolidando um marco crucial na história do país.
A Constituição de 1988, com seus 250 artigos, tornou-se a segunda maior constituição do mundo, refletindo a vastidão da diversidade brasileira e a complexidade dos temas debatidos durante o processo constituinte.
O caráter participativo da Assembleia permitiu que diversos setores da sociedade contribuíssem para a elaboração do texto constitucional por meio de sugestões e emendas, garantindo que os anseios populares fossem representados.
Desde sua promulgação em 5 de outubro de 1988, a “Constituição Cidadã” tem sido um pilar fundamental do Estado Democrático de Direito no Brasil.
Ao longo dos anos, a Constituição de 1988 enfrentou desafios para a implementação plena de seus princípios. Até 2023, 129 emendas já foram aprovadas, demonstrando a capacidade de adaptação da Constituição às necessidades cambiantes da sociedade. As cláusulas pétreas permanecem como garantias essenciais para a preservação dos valores fundamentais da Constituição.
A Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 deixou um legado duradouro para a política e a sociedade brasileira, consolidando direitos fundamentais e estruturando o Estado Democrático de Direito. Seu impacto continua a ser sentido, influenciando a política e a sociedade brasileira até os dias atuais.

